No último domingo, cerca de 200 jovens reuniram-se no espaço Mater
Dei da Catedral Diocesana para debater sobre as Cruzadas,
Inquisição e a posição da Igreja Católica nesses fatos. A 3ª
edição do Fé&Café, projeto que busca o diálogo livre entre a
juventude e que acontece no último domingo de cada mês, teve a
proposta de trazer informações que muitas vezes não são
apresentadas em aulas de história.
A discussão iniciou com o vídeo feito pelos jovens do projeto,
apresentando a opinião de estudantes e professores de história
sobre o assunto. É logo na filmagem que se tem o entendimento sobre
a temática: Professor Fábio coloca no vídeo que, no contexto da
Idade Média, de acordo com a cultura da época, a Igreja acreditava
que estava agindo de forma correta. Ou seja, não se pode interpretar
um fato passado, que dominava um tipo de conhecimento, com o
conhecimento de hoje, sem aprofundar o porquê da visão antiga. “Não
dá para interpretar a Inquisição e as Cruzadas sem considerar o
contexto nos quais os fatos ocorreram - a mentalidade e a situação
da época - para não correr o risco de um julgamento superficial”,
afirma o teólogo Padre Leomar Brustolin, idealizador do projeto e
participante da discussão.
Antes de analisar os fatos, Leomar ainda atenta que é necessário
ter domínio de alguns conceitos:
Heresia: escolha redutora e parcial da verdade. Meia verdade é
mentira. A heresia não nasce de fora, mas de gente de dentro da
Igreja.
História: fatos contados por uma posição, uma voz.
Igreja: Corpo de Cristo.
Sobre as Cruzadas: o seminarista do 4º ano de teologia e
professor de história, Leonardo Dall Osto apresentou o que foi as
Cruzadas para a Igreja: os muçulmanos impedem os cristãos de ter
acesso ao Santo Sepulcro. Quando as cruzadas (guerras santas) são
pregadas pelo Papa da época, o pontífice difunde como resgate da
terra santa e do Santo Sepulcro para as mãos dos cristãos. Também
havia influência dos imperadores para conquista política de
territórios, que, de acordo com o Padre Leomar, tinham poder de
adulterar documentos do Papa. Ele ainda aponta que graças às
Cruzadas, a religião muçulmana, que estava em grande expansão, não
chegou no ocidente.
“Como para os médicos, tirar um membro do corpo com problemas para
não prejudicar o corpo era licito,na época, para os líderes, eles
entendiam que era lícito tirar um membro da sociedade que estava com
problemas para não afetar o todo. Isso para nós não é
aceitável, mas na época era um entendimento”, coloca Leonardo.
Brustolin o complementa, afirmando que: “No contexto da época, a
guerra tinha uma conotação até sagrada, principalmente para os
muçulmanos. Atualmente, nada justifica matar ou torturar alguém, nem
mesmo em nome da fé ou da verdade, por isso a Igreja hoje é a maior
defensora da vida”.
Sobre a Inquisição: Leomar afirma que não temos como analisar o
fato se não entendermos quem eram os Catáros: corrente herégica
dentro da Igreja que iniciou no sul da França, que levantavam uma
filosofia de dois deuses (um bom e um mal). O bom criou o espírito e
o mal a carne, com a mensagem "vocês tem que se livrar da
carne". Isso começou a se disseminar na França, Itália e
Alemanha, colocando em cheque a Igreja e o Estado e estimulando o
suicídio, a morte, o assassinato, pois as pessoas iam se "libertar"
do corpo.
Para conter esse movimento, nos primeiros anos a Igreja tentou criar
oportunidades para, quem estava pregando essa visão, se arrepender.
Mas os catáros continuavam, de modo que a Igreja precisou instituir
tribunais para avaliar cada caso. Com o tempo, como dominava na
época, o direito romano foi incorporado nos tribunais. Com essa legislação, vinha a tortura para chegar confissão. Para chegar à resposta, a Igreja incorporou
isso de maneira mais moderada que o Estado. Usava uma vez, enquanto o Estado usava no mínimo quatro. Houveram os
abusos de tortura, de modo que começaram a ser cortados pelo Papa e os inquisitores foram presos.
A Igreja reconhece os erros de seus filhos, de tal forma que João
Paulo II pediu perdão no ano de 2000 e proclamou “nunca mais” para a morte em nome de Deus.
"A Igreja é convidada a assumir com maior consciência o peso
do pecado dos seus filhos. Ela reconhece sempre como próprios os
filhos pecadores e incita-os a purificarem-se pelo arrependimento",
afirma João Paulo II.
Pergunta da plateia: por que a Igreja continua sendo alvo de críticas,
se ela já reconheceu o erro, ao contrário de outras instituições
e nações, que erraram no passado, não assumem e não são
criticadas? (O século de sangue foi o XX, com as guerras mundiais,
os regimes totalitários, a escravidão, o peso do poder econômico,
as armas bélicas, e não a Idade Média).
Padre Leomar responde: “A perseguição com a Igreja não é por
causa de religião, de espiritualidade, mas porque a Igreja se
posiciona diante de fatos da humanidade, como origem da vida, aborto,
família... que muitas vezes esbarram no poder econômico e político.
É necessário ver que qualquer generalização ou aplicação da
culpa aos católicos de hoje pelos erros do passado é fruto de uma
ideologia antieclesial”.
Como católicos, somo convidados a tomar atitudes diante de nossa
história:
*humildade diante do passado;
* Fidelidade à
Igreja de Cristo, onde seus filhos erraram e erram. Igreja é o corpo
de Cristo, quando os membros erram, todo corpo sofre;
*Consciência
de que hoje também há erros que devemos superar, dentro e fora da
Igreja;
*Manter a fé, sem aceitar humilhações pelos erros do
passado;
*Trabalhar pela tolerância, respeito e o diálogo.
O tema da próxima edição, que será realizada no dia 24/06, está em votação
no canto direito do blog até dia 03/06. Vote entre:
*O fim do mundo em 2012
*Aborto e o embrião humano
*Milagres?
Existem? O que são?