4 de abril de 2012

Deus, o homem e a busca pelo bem comum

Artigo feito por Thiago Stangherlin Barbosa, estudante de Engenharia Ambiental e pesquisador do Laboratório de Bioprocessos da Universidade de Caxias do Sul, sobre o 1º Tema do Fé & CaFé "Se Deus existe, por que o mal?".

Deus, o homem e a busca pelo bem comum
   Desde o início da existência da concepção de uma sociedade funcional, conjuntamente com as questões teológicas e científicas, questionamos, julgamos e executamos em um processo global a definição do bem e o mal e o equilíbrio da vida como um todo.
   Contudo tal julgamento não é homogêneo, ou seja, cada nação, cada grupo social e cada indivíduo, possui diferentes visões e concepções a cerca do bem e do mal, uma condição quase que natural devido as diferenças sócio-culturais, e o fato de que todos somos diferentes.   
   Mesmo assim, todos nós buscamos a ausência de um sofrimento e a concepção de um sociedade perfeita, onde a harmonia poderá estar em todos os lugares, em todos os grupos e em todas as culturas. Será isto possível? Será utópico? Por que Deus não salva um familiar que morre tragicamente? Porque existe o câncer? São asperguntas que eu acredito que nos fazemos e são precursoras do foco desta discussão a cerca de Deus, sendo o bem supremo e a definição do mal em nossa sociedade.
   Tentando responder a todas estas questões, primeiro definirei o mal na minha concepção: O mal em nossa sociedade pode ser definido como o conjunto de ações humanas (ou a falta destas) as quais causam um desequilíbrio em todo o macro sistema que permite a biosfera ser funcional (incluindo a nossa sociedade, pois somos componentes biológicos deste sistema). Para um melhor entendimento desta minha definição, citarei dois exemplos: 

Exemplo1: Vamos analisar a fome que existe no mundo e a falta de ação conjunta da nossa sociedade global e as repercussões que isto gera. Seres desnutridos e famintos, submetidos a uma condição de saneamento precária são hospedeiros ideais para que microrganismos e vírus se multipliquem e se modifiquem (mutação) obtendo-se da possibilidade do desenvolvimento de pandemias globais. Um exemplo claro desta questão pode ser avaliado com a recente e muito discutida, “gripe A”, obtendo-se de uma alta probabilidade desta ter sido desenvolvida em países onde existe a miséria.
Assim tanto a ação como a falta de ação que submete e mantém a miséria no mundo é parte do mal, ou seja, gera o desequilíbrio.
Exemplo2: Neste segundo exemplo vamos analisar as ações do homem que por sua ignorância, geraram primeiramente uma concepção de equilíbrio e prosperidade à vida e atualmente geram um perigoso desequilíbrio. O crescimento científico e tecnológico na extração dos combustíveis fósseis e a sua utilização como fonte energética, proporcionou um crescimento econômico e em todas as esferas tecnológicas, possibilitando conseqüentemente um avanço nos sistemas de saúde, aumentando a população em número (explosão demográfica) e qualidade de vida (expectativa de vida). Este avanço, portanto, demonstrou-se causador de um aumento do equilíbrio na sociedade humana (ao menos em parte desta), porém atualmente a emissão de dióxido de carbono, resultante da queima de combustíveis fósseis, está causando a intensificação do efeito estufa, resultando na tão comentada mudança climática global a qual ameaça não apenas a vida humana, mas a maioria dos seres e componentes dos ecossistemas do planeta. Portanto o que primeiramente foi tratado como benéfico, atualmente é tratado com altamente problemático. Além disso uma alta densidade demográfica causa conseqüentemente um consumo dos recursos naturais muito além da capacidade de renovação do meio. As mudanças climáticas e os problemas ambientais do alto e descontrolado consumo dos recursos naturais acabam atingindo a economia, os povos com renda baixa (pois são as mais frágeis ambientalmente), aumentando as tensões entre estes povos e conseqüentemente a violência.

   A partir destes dois exemplos, voltamos a questão principal deste artigo: Diante da complexa situação geradora de desequilíbrio, porque Deus não magicamente causa o equilíbrio e evita que todo o mal exista?
   Agora imaginemos que isso fosse possível, que todo acidente trágico em um automóvel fosse evitado, se toda disparo de uma arma fosse anulado, se todo câncer magicamente desaparecesse, se toda a fonte causadora de desequilíbrio simplesmente não existisse... Como nós distinguiríamos o certo do errado? Isso nos remeteria a questão de que tudo que fizermos será encobertado e protegido por Deus nosso criador. Isso acabaria com toda a razão e lógica de Deus ter nos dado inúmeros dons para que resolvêssemos os problemas por nós mesmos criados.
   A sociedade têm a idéia erronia de que Deus por ser o todo poderoso, resolverá todos os nossos problemas e anseios. Isso é como se nós mesmos nos insultássemos dizendo que somos inúteis neste mundo. Todos os seres têm a sua função, desde a mais
simples bactéria até o mais complexo organismo e todos hão de agir em conjunto para obter um todo funcional. É nosso dever básico.
   Certamente muitos culpam o porquê Deus não impediu um acidente com automóvel de um ente querido. Ou porque ele não evitou o câncer em uma pessoa amada. Mas a grande questão é: quem inventou o automóvel, ingeriu o álcool e criou um sistema industrial com diversas substâncias artificiais e bioacumulativas que geram mutações genéticas e são precursoras do câncer? Podemos então dizer que o ente querido e o ser amado foram inocentes neste processo, e certamente são. Porém para resolvermos o problema é indispensável uma ação conjunta e não apenas individual. Temos que investir em um sistema que impeça que jovens acabem com suas vidas em função da ingestão de drogas e álcool para que evitemos que inocentes morram. Temos que criar um sistema onde aja não apenas a cura do câncer, mas também, todos os métodos de prevenção deste. Temos que criar novas fontes de energia e um consumo cíclico dos recursos naturais de forma a manter o todo funcional. E para tudo isso temos que ter fé e força para resistirmos aos nossos erros e darmos as mãos a Deus para que nos auxilie e nos ilumine para que utilizemos o máximo de nossos dons para o bem comum, para o amor ao próximo, para que esta sociedade seja digna de tal criação. Pois apenas assim poderemos resolver os problemas, em conjunto. Não será possível resolver os problemas da fome no mundo sem resolver os problemas ambientais, sócio-culturais, econômicos. Assim como não resolveremos os problemas de saúde sem resolvermos a fome no mundo.
   A cada dia novas concepções e conhecimentos são gerados para a solução dos problemas. Nosso sistema não é falho na produção do conhecimento, mas sim na distribuição e ordenação do mesmo. Se todos obtivessem a sabedoria a cerca da emergência que estamos enfrentando para a solução destes problemas, e utilizássemos nossa alegria, tristeza, indignação, fé e esperança para a solução dos nossos problemas ao invés de culparmos Deus e questionarmos a sua existência, o mal, como o conhecemos, poderá deixar de existir.
   Porém, isso provavelmente não remeterá que todos os problemas desaparecerão para sempre. Teremos sempre algo a resolver, pois a evolução é contínua e o equilíbrio não é estático, é dinâmico.
Thiago Stangherlin Barbosa
Caxias do Sul,
03/04/2012.

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