-Quando vamos reencontrar nossos parentes falecidos? Vamos poder
conversar com eles? Será enquanto aguardamos a volta de Jesus ou quando todos
ressuscitarmos?
Conforme a fé católica, ao morrermos,
se estivermos no céu, poderemos reconhecer nossos parentes porque os mortos não
perdem sua identidade diante de Deus. Poderemos, mais do que conversar, estarmos
em sintonia com eles na comunhão com Deus.
-Bebês que faleceram ainda no útero da mãe e não tiveram possibilidade
de amar mais ou menos, como são julgados?
Deus fará justiça a eles dando-lhes a eternidade. O
juízo é de amor, e amar é restituir a vida plena.
-Acredito que esta vida seja uma passagem para a vida eterna. No que
consiste o pecado mortal? Não terei mais vida eterna? A confissão basta
para isso?
Nesta vida nos encaminhamos para a vida eterna. O pecado mortal ocorre
quando a pessoa livre e conscientemente
se afasta de Deus e de sua Lei, escolhendo
não amar, preferindo seu egoísmo e fechamento. A confissão sacramental libera a
pessoa da culpa deste pecado, mas para isso é preciso arrependimento e procurar
reparar o mal cometido.
-Se o inferno é a ausência de Deus, para onde os ateus e as pessoas que
não acreditam no mesmo Deus que os católicos vão?
O critério da salvação é amar como Jesus amou. Se
alguém não teve chance de conhecer Jesus, porque viveu numa outra cultura ou
numa religião na qual Jesus não é conhecido, isso supõe que a salvação será uma
obra misteriosa do nosso Deus. Não sabemos como ele fará isso, só sabemos que seu querer é de
salvar. Da mesma forma os ateus: alguns
não acreditam porque não conseguem entender
o mistério da vida, do mal e da morte; outros acreditam apenas no que os seus olhos enxergam, outros ainda,
têm alguma dificuldade com as religiões, outros buscam a verdade e não
conseguem ceder a questões transcendentais. Todos seremos julgados, e eles também, de acordo com
os condicionamentos e limites da nossa compreensão da realidade. A salvação
deles depende de Cristo e nem deles mesmos, pois neste caso seria totalmente
comprometida.
-Em algum momento após a morte vamos compreender alguns ou todos os
mistérios de Deus?
Sobre isso não temos o que afirmar. Depende do querer
de Deus revelar-se conforme lhe convém. Pode ser que Ele pretenda revelar apenas
o seu amor eterno para nós. Isso nos basta.
-Rezar adianta para quem morreu? Como de fato ajudamos a pessoa?Mudamos
seu destino de céu ou inferno?
Rezar pelos falecidos é muito importante. Ajuda a manter a comunhão
entre vivos e mortos. Comunhão de amor em Cristo, por isso, a melhor oração é a eucaristia. Pode não
mudar a decisão definitiva sobre céu e inferno, mas certamente participa do
alívio de quem está, mesmo depois da morte, renovando-se no amor, conforme a
doutrina do purgatório.
Somos uma unidade corpo, mente e espírito. Só que o corpo é mais do que
a matéria, corpo é o sorriso, o olhar, a comunicação, a relação. Quando
morremos a materialidade do corpo se desfaz. O nosso ser vai para Deus e espera
essa nova corporeidade. É o que professamos ao dizer CREIO NA RESSURREIÇÃO DA
CARNE. Contudo, se a nossa materialidade poderá ser útil para outros, isso é um
grande gesto de amor: doar as córneas, o coração, o fígado etc.. Somos, portanto, favoráveis à doação dos órgãos de
um cadáver. E sobre a cremação: uma vez que precisaremos ganhar uma nova corporeidade na ressurreição, no final dos tempos, não é
problema desfazer esse corpo por cremação. O cadáver é dispensável para a
pessoa assim como a placenta é para o feto após o nascimento. Se destinamos o
cadáver à inumação ( enterrar) ou
cremação ( incineração) é uma questão até cultural. É claro que os cristãos
preferem tradicionalmente a inumação, mas atualmente não há proibição da
cremação. Somos uma unidade, mas ao se desfazer o nosso corpo mortal permanece
a nossa essência, contudo sem a materialidade.
-Somos corpo e alma ou corpo alma e espírito?O que é o espírito? Qual a
diferença de alma?
Corpo, alma e espírito somos nós. Não temos um corpo, somos o corpo, não
temos uma alma, somos a alma, não temos um espírito, somo espírito. Na
linguagem, contudo, separamos as três dimensões. Corpo seria nossa visibilidade
física, cuidada pelos médicos. Alma ( de anima) pode ser nossa subjetividade
psíquica , cuidada pelos psicólogos; e espírito seria nossa invisibilidade
transcendental. Afinal também somos alguém que vai além das aparências. Algumas
vezes, porém identifica-se a alma como espírito. Mas isso é uma questão de
nomenclatura.
-É possível prever a morte?
Isso é muito raro, mas não é impossível. Algumas
pessoas mais idosas ou gravemente enfermas conseguem intuir algo sobre a sua
morte, mas sem precisão absoluta.
-Como posso ver a imagem de uma pessoa sem nem nunca ter visto a mesma?
Como isso seria projeção?
Estudos da neurociência investigam este tipo de
experiência. Hoje sabemos como o inconsciente é capaz de surpreender o
consciente com imagens e conhecimentos que nos assustam. No entanto, tudo isso não
é do plano religioso, mas do psíquico.
Há boas pesquisas nesta linha e outras estão se consolidando.
-O médium captura o inconsciente de quem morreu ou
da pessoa enlutada?
Da pessoa enlutada que registrou as informações do inconsciente da pessoa
moribunda.
-Na física, quando falamos de energia, nada se perde, tudo se
transforma. Se a alma é energia, o que acontece com ela depois da morte?
A alma não é energia, a alma é o que denominados a
dimensão transcendente do ser. Por isso o que acontece após a morte está fora
das leis da física e da química. Trata-se de uma nova condição, até então
desconhecida por nós.
- O comentário "chegou a hora da pessoa" tem algum fundamento?
E "Deus sabe o que faz", "ele está em um lugar melhor"?
Deus sabe o que faz e tudo o que ele faz é muito bom. Mas isso não pode
ser aplicado a dizer que Deus causou a morte ou colheu a pessoa da vida. Essas
explicações geralmente causam mal estar nos enlutados. São racionalismos sobre
os acontecimentos. Todos teremos nossa
hora de morrer, Deus sabe quando será. Mas isso não implica que ele cause a
morte para a pessoa ir para um lugar melhor.
- Qual é a diferença do amor do cristianismo católico e o de Xico
Xavier? Por que a diferença de acreditar em reencarnação ou ressurreição muda
nossa forma de amar?
No catolicismo devemos amar as pessoas sem pensar no merecimento.
Devemos fazer como Jesus fez: amar até o fim, amar o inimigo, o diferente e dar
a vida em favor dos outros. Devemos fazer ao outro o bem que ele precisa para
poder ter mais vida. Afinal, amar é
colaborar na salvação, mas somente Jesus nos salva. Mesmo que tivéssemos amado infinitamente, sem a ação de Jesus, não
teria como ressuscitarmos.
Na teoria reencarnacionista, o amor é vivido
também, mas numa outra forma. É para aliviar o carma, para evitar novas reencarnações.
Há um motivo bem claro: vencer os carmas. E na fé reencarnacionista não entra a
ação salvadora de Deus, é somente a pessoa por seus méritos pessoais,
baseados na caridade, que vai se salvar. Veja a questão fundamental: dispensa a
ação salvífica de Cristo.
-Meu nome é Debora, 26 anos, sou evangélica e
na minha religião nós acreditamos que exista céu e inferno, que há o mundo
espiritual e que tudo isso seja muito mais real do que no mundo em que vivemos
e que este mundo é passageiro. Digamos que é uma sala de espera e que nós
estamos sim de fato esperando pra algum lugar e que somos nós quem decidimos
para onde vamos com nossas atitudes. O quanto esse mundo espiritual afeta no
dia-a-dia?
Sim,
a visão evangélic a é muito semelhante à
católica. As diferenças são as seguintes: os católicos acreditam na tradição do
purgatório que é a possibilidade de
alguém se purificar dos seus pecados até mesmo depois da morte por uma ação
misericordiosa de Deus. E os
evangélicos, em geral, acreditam que após a morte a pessoa dorme
esperando a parusia ( segunda vinda de
Cristo),quando ocorrerá a ressurreição dos mortos. Os católicos acreditam que entre a
morte e a parusia está um tempo sem
cronologia que é o tempo do céu, onde os mortos esperam a ressurreição final, mas já estão na alegria eterna. Cremos também
que alguns estão no purgatório e resta a possibilidade de uma ruptura absoluta
com Deus: o inferno. O que determina nosso destino final é o amor que fazemos
em vida e ação de Cristo que nos salvará. Sem ele nada podemos fazer. Essa
esperança numa comunhão plena com Deus começa aqui e agora no amor ao
próximo.