Trabalho realizado por Carina Rafaela de Godoi Felini
Disciplina Introdução à Antropologia
Relações Internacionais
Faculdade América Latina Educacional
Introdução
A proposta de unir os jovens na Catedral
Diocesana de Caxias do Sul para um debate bem humorado no qual se discutissem temas
relacionados à fé e ao desenvolvimento social e pessoal foi proposta pelo padre
Leomar; o apoio para sua operacionalização surgiu do grupo de jovens que
participa ativamente na Catedral. Desta forma teve início a jornada do “Fé e
Café”, um projeto formatado para que os jovens se encontrem para debater,
socializar e, claro, beber café.
A pesquisa deste trabalho consiste em
identificar como ocorrem as interações entre os jovens que participam do Fé e
Café. Além disto, buscaremos mapear a faixa etária dominante nos encontros e as
razões e motivações que levam os jovens a participar.
O
programa Fé e Café
Desde março de 2012, no espaço Mater Dei
da Catedral Diocesana de Caxias do Sul, um grupo de jovens se reúne para
esclarecer dúvidas de espiritualidade e de vivência cristã na forma de um
bate-papo chamado “Fé e Café”. Junto a eles, participa também o teólogo padre
Leomar Brustolin, pároco da Catedral Diocesana de Caxias do Sul. Os encontros
acontecem no último domingo de cada mês, às 20h, têm entrada gratuita e são
abertos a todos os jovens. Como chamariz, haveria também música ao vivo - com a
presença de diferentes bandas a cada encontro – e, claro, café à vontade.
O projeto foi idealizado pelo próprio padre
e por jovens atuantes na igreja que buscavam respostas a temas como
espiritualidade, fé, progresso social e amor ao próximo. Eles decidiram
discutir estes temas em reuniões destinadas exclusivamente ao público jovem,
nas quais estes próprios produziriam e apresentariam vídeos em que a sociedade
poderia opinar sobre os assuntos em pauta.
Atuantes na Catedral, o casal Mariana
Carrer e Vinícius Bacichetto receberam o convite diretamente do pe. Leomar para
coordenar o projeto. Mariana conta o porquê decidiu aceitar “(...)como decidi
fazer parte ativamente da religião católica faz pouco tempo, dois anos, tenho
muitas dúvidas quanto ao pensamento do Igreja como instituição (e) sempre fui
católica, fiz catequese, mas há coisas que nunca recebi explicação. Por este
motivo acredito que não devemos opinar sem saber as explicações. Como quero
opinar e ter certeza do que defendo e acredito decidi participar e organizar o
Fé e Café.”.
Vinícius também afirma que decidiu
organizar o evento porque “(...) o pe. Leomar solicitou para mim e para a Mari
coordenarmos o projeto, este é o primeiro ponto, o segundo ponto foi que quando
ele convidou eu achei interessante e topamos. Hoje, o que me motiva a ir é
quando se trata de assuntos que eu acho interessante, tem assuntos que não acho,
ai nem presto atenção, tem outros que são bem polêmicos e ai gosto de ir e
participar (...)”
Primeiramente, podemos observar que o
local no qual ocorrem os encontros é bastante agradável e acolhedor. O uso de
almofadas coloridas com o logo “Fé e Café” e a presença de música ao vivo parecem
descontrair o ambiente logo de entrada. Ademais, xícaras com café fumegante e
biscoitos também atraem os participantes, alimentando-os e dando margem para
que se travem novos conhecimentos. Como Vinícius Bacichetto relata: “(...) as bandas são diferentes, com repertórios diferentes,
o que também se torna um atrativo e todo o ambiente é projetado para o
encontro, com almofadas personalizadas, efeitos de luzes, puffs e tatames, tudo
muito colorido para ter a cara do jovem.”
Destarte, os jovens parecem já se sentir
em casa, ou mesmo num ambiente no qual estão livres a discutir os mais variados
temas. Como adultos não participam, paira no local uma sensação de que nenhum
assunto deve ser tratado como tabu, pois ali não estarão os “crescidos” para
lhes fazerem sentir-se envergonhados. A exceção é pe. Brustolin, mas este é
visto pelos jovens como um facilitador e não como um agente julgador. Além
disto, a maioria dos jovens que participa do Fé e Café vêm aos encontros
diretamente após a missa celebrada às 19h na Catedral, a qual o padre Brustolin
preside.
O organizador Vinícius afirma que “o mais interessante é que mesmo acontecendo o encontro
no meio de um ambiente católico, o projeto não é somente para participantes
católicos, ele é aberto para todos os jovens entre 15 e 35 anos independente de
sua religião e o objetivo é exatamente ir e colocar as opiniões adversas dos
jovens, ou seja, não há necessidade de concordar com o que o padre fala, mas
sim gerar um ambiente de diálogo e apresentar o que o pensamento da igreja.”
Este parece ser um ponto importantíssimo
para o sucesso do Fé e Café pois os jovens apreciam muito a idéia de um
bate-papo descontraído no qual não terão que se “converter” à opinião oficial da
igreja católica se não quiserem. Em última análise, os encontros são uma
catequese ao inverso, na qual os jovens não são catequizados, mas sim
informados sobre um ponto de vista próprio da Igreja para, a partir daí,
formaram sua própria opinião. Mariana explicita “(...) é extremamente inovador
para uma igreja tradicional...(essa) interatividade, ou seja os temas são
votados, assim você pode ajudar a construir o Fé e Café. E por fim, essa
abertura que o padre Leomar oferece aos jovens de virem aos encontros e
discutir diretamente com ele, duvidar, questionar e até mesmo confrontar
as idéias da Igreja. “
Um dos jovens idealizadores do projeto
sempre abre a nova edição do Fé e Café apresentando o tema a ser abordado.
Segue a apresentação de um vídeo - produzido pela comissão organizadora dos
encontros – que mostra uma seleção de pessoas entrevistadas previamente sobre o
tema em questão. Cabe notar que sempre há um elemento de humor nestes vídeos,
fazendo com que os jovens presentes se divirtam e se sintam ainda mais descontraídos
e desinibidos. No encontro cujo assunto era a visão da Igreja sobre o
evolucionismo alguns membros da comissão organizadora imitaram macacos no
vídeo!
A seguir, o padre Brustolin introduz o
tema, que varia desde as Cruzadas e a Inquisição, os enigmas da criação e
evolucionismo darwiniano ou mesmo sobre a existência do mal. Não importa o
assunto, Brustolin fala com a propriedade de um teólogo experiente e
conhecedor, e introduz aos jovens a visão da Igreja Católica. A partir de
então, as perguntas e as opiniões passam a surgir e os jovens esperam para,
cada um a sua vez, discutir.
Das vezes nas quais estive presente nunca
notei intolerância entre as divergentes opiniões que tendem a aparecer. Os
jovens se portam de maneira exemplar, nunca deixando que as divergências entre
seus pontos de vista prevaleçam e arruínem o bem-estar geral e a satisfação que
as questões respondidas durante os encontros oferecem. Parece haver uma
consciência geral de que naquele espaço e momento, dentro de um espaço
religioso dedicado a abertura do pensamento, deve-se deixar de lado ofensas,
preconceitos e violência.
A
cada pergunta feita, o padre Brustolin busca mostrar qual enfoque a Igreja
possui oficialmente sobre o assunto e abre espaço para que os demais jovens
interessados em opinar publicamente o façam. O microfone é passado e cada um
tem sua vez de falar. Sempre há momentos emocionais, nos quais surgem relatos
ou vivências que os participantes desejam partilhar com o grupo. Ali, naquele
momento, surge uma cumplicidade espontânea entre os jovens.
Em relação à faixa etária predominante,
pude observar que a maioria dos jovens tem entre 18 e 25 anos de idade.
Oficialmente, o Fé e Café pode abranger pessoas de 15 a 35 anos, mas me pareceu
raro encontrar maiores de 30 anos presentes. Uma das razões é que os próprios
organizadores do evento se encontram na faixa etária média de 25 anos e, uma
vez que eles próprios estão entre os maiores incentivadores do projeto, parece
óbvio que atrairão pessoal mais jovem.
Finalmente, depois de aproximadamente uma
hora de discussões – o tempo determinado para os encontros do Fé e Café - o pe. Leomar sumariza os
pontos-chaves discutidos. Há sempre a insistência para que os jovens acessem o
blog ou as redes sociais e votem no tema do próximo encontro. Mais um pouco de
música e, com uma sensação de perguntas respondidas ou pelo menos trazidas à
tona, os jovens deixam o espaço Mater Dei da Catedral Diocesana para voltar
somente no final do mês seguinte.
Apontamentos
finais
As atividades do Fé e Café são recentes,
mas já atraem um número expressivo de jovens desejosos por conhecimento. A
Igreja Católica, representada na forma da Catedral Diocesana de Caxias do Sul,
tornou-se o meio através do qual os debates sobre espiritualidade, fé e
comportamento acontecem todo final de mês.
É notável o empenho que a turma
organizadora dedica aos encontros, criando um ambiente descontraído, inventando
vídeos, realizando entrevistas e, notadamente, fazendo uso expressivo das
mídias sociais para divulgar o programa. A iniciativa do padre Leomar foi muito
bem recebida e levada à cabo com esmero.
O interesse pelos temas e a vontade de
conhecer para poder se expressar com propriedade parecem ser as principais motivações
dos jovens para participar. Durante os encontros o clima é amigável e
descontraído, bastante adequado para a juventude, que age com naturalidade e
desenvoltura ao questionar os dogmas da Igreja ou ao travar conhecimentos.
Bibliografia
KUSCHINIR, Karina. Eleições e representação no Rio de janeiro. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2000, PP 9-16 (introdução).
FÉ
E CAFÉ CAXIAS. O que é. Disponível em
http://feecafecaxias.blogspot.com.br/p/o-que-e.html Acesso em junho 2012.
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