31 de julho de 2012

Perguntas do 5º Encontro - Tema "Há vida após a morte?"

No último encontro, a discussão foi tão interessante que muitas perguntas feitas por papel não foram respondidas por falta de tempo. Encaminhamos as questões ao teólogo Pe. Leomar Brustolin, que respondeu à luz da fé católica. Confira abaixo:

-Quando vamos reencontrar nossos parentes falecidos? Vamos poder conversar com eles? Será enquanto aguardamos a volta de Jesus ou quando todos ressuscitarmos?
Conforme a fé católica, ao morrermos, se estivermos no céu, poderemos reconhecer nossos parentes porque os mortos não perdem sua identidade diante de Deus. Poderemos, mais do que conversar, estarmos em sintonia com eles na comunhão com Deus.

-Bebês que faleceram ainda no útero da mãe e não tiveram possibilidade de amar mais ou menos, como são julgados?
Deus fará justiça a eles dando-lhes a eternidade. O juízo é de amor, e amar é restituir a vida plena.

-Acredito que esta vida seja uma passagem para a vida eterna. No que consiste o pecado mortal? Não terei mais vida eterna? A confissão  basta para isso?
Nesta vida nos encaminhamos para a vida eterna. O pecado mortal ocorre quando a pessoa livre e  conscientemente se afasta  de Deus e de sua Lei, escolhendo não amar, preferindo seu egoísmo e fechamento. A confissão sacramental libera a pessoa da culpa deste pecado, mas para isso é preciso arrependimento e procurar reparar o mal cometido.

-Se o inferno é a ausência de Deus, para onde os ateus e as pessoas que não acreditam no mesmo Deus que os católicos vão?
O critério da salvação é amar como Jesus amou. Se alguém não teve chance de conhecer Jesus, porque viveu numa outra cultura ou numa religião na qual Jesus não é conhecido, isso supõe que a salvação será uma obra misteriosa do nosso Deus. Não sabemos como ele  fará isso, só sabemos que seu querer é de salvar.  Da mesma forma os ateus: alguns não acreditam porque não conseguem  entender o mistério da vida, do mal e da morte; outros acreditam apenas  no que os seus olhos enxergam, outros ainda, têm alguma dificuldade com as religiões, outros buscam a verdade e não conseguem ceder a questões transcendentais. Todos  seremos julgados, e eles também, de acordo com os condicionamentos e limites da nossa compreensão da realidade. A salvação deles depende de Cristo e nem deles mesmos, pois neste caso seria totalmente comprometida.

-Em algum momento após a morte vamos compreender alguns ou todos os mistérios de Deus?
Sobre isso não temos o que afirmar. Depende do querer de Deus revelar-se conforme  lhe convém. Pode  ser que Ele pretenda revelar apenas o seu amor eterno para nós. Isso nos basta.

-Rezar adianta para quem morreu? Como de fato ajudamos a pessoa?Mudamos seu destino de céu ou inferno?
Rezar pelos falecidos  é muito importante. Ajuda a manter a comunhão entre vivos e mortos. Comunhão de amor em Cristo,  por  isso, a melhor oração é a eucaristia. Pode não mudar a decisão definitiva sobre céu e inferno, mas certamente participa do alívio de quem está, mesmo depois da morte, renovando-se no amor, conforme a doutrina do purgatório. 

-Se ao morrer não vamos com o corpo ou a matéria, como funciona a cremação para a Igreja? E a doação de órgãos? Se somos um só, então ao morrer o corpo não morreria a alma e o espírito?
Somos uma unidade corpo, mente e espírito. Só que o corpo é mais do que a matéria, corpo é o sorriso, o olhar, a comunicação, a relação. Quando morremos a materialidade do corpo se desfaz. O nosso ser vai para Deus e espera essa nova corporeidade. É o  que  professamos ao dizer CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE. Contudo, se a nossa materialidade poderá ser útil para outros, isso é um grande gesto de amor: doar as córneas, o coração, o fígado etc.. Somos,  portanto, favoráveis à doação dos órgãos de um cadáver.  E sobre a cremação: uma vez que precisaremos ganhar uma nova corporeidade  na ressurreição, no final dos tempos, não é problema desfazer esse corpo por cremação. O cadáver é dispensável para a pessoa assim como a placenta é para o feto após o nascimento. Se destinamos o cadáver  à inumação ( enterrar) ou cremação ( incineração) é uma questão até cultural. É claro que os cristãos preferem tradicionalmente  a inumação, mas atualmente não há proibição da cremação. Somos uma unidade, mas ao se desfazer o nosso corpo mortal permanece a nossa essência, contudo sem a materialidade.

-Somos corpo e alma ou corpo alma e espírito?O que é o espírito? Qual a diferença de alma? 
Corpo, alma e espírito somos nós. Não temos um corpo, somos o corpo, não temos uma alma, somos a alma, não temos um espírito, somo espírito. Na linguagem, contudo, separamos as três dimensões. Corpo seria nossa visibilidade física, cuidada pelos médicos. Alma ( de anima) pode ser nossa subjetividade psíquica , cuidada pelos psicólogos; e espírito seria nossa invisibilidade transcendental. Afinal também somos alguém que vai além das aparências. Algumas vezes, porém identifica-se a alma como espírito. Mas isso é uma questão de nomenclatura.

-É possível prever a morte?
Isso é muito raro, mas não é impossível. Algumas pessoas mais idosas ou gravemente enfermas conseguem intuir algo sobre a sua morte, mas sem precisão absoluta.

-Como posso ver a imagem de uma pessoa sem nem nunca ter visto a mesma? Como isso seria projeção?
Estudos da neurociência investigam este tipo de experiência. Hoje sabemos como o inconsciente é capaz de surpreender o consciente com imagens e conhecimentos que nos assustam. No entanto, tudo isso não  é do plano religioso, mas do psíquico. Há boas pesquisas nesta linha e outras estão  se consolidando.

-O médium captura o inconsciente de quem morreu ou da pessoa enlutada?
Da pessoa enlutada que registrou  as  informações do inconsciente da pessoa moribunda.

-Na física, quando falamos de energia, nada se perde, tudo se transforma. Se a alma é energia, o que acontece com ela depois da morte?
A alma não é energia, a alma é o que denominados a dimensão transcendente do ser. Por isso o que acontece após  a morte está fora das leis da física e da química. Trata-se de uma nova condição, até então desconhecida  por nós.

- O comentário "chegou a hora da pessoa" tem algum fundamento? E "Deus sabe o que faz", "ele está em um lugar melhor"?
Deus sabe o que faz e tudo o que ele faz é muito bom. Mas isso não pode ser aplicado a dizer que Deus causou a morte ou colheu a pessoa da vida. Essas explicações geralmente causam mal estar nos enlutados. São racionalismos sobre os acontecimentos. Todos  teremos nossa hora de morrer, Deus sabe quando será. Mas isso não implica que ele cause a morte para a pessoa ir para  um  lugar melhor.

- Qual é a diferença do amor do cristianismo católico e o de Xico Xavier? Por que a diferença de acreditar em reencarnação ou ressurreição muda nossa forma de amar?
No catolicismo devemos  amar as pessoas sem pensar no merecimento. Devemos fazer como Jesus fez: amar até o fim, amar o inimigo, o diferente e dar a vida em favor dos outros. Devemos fazer ao outro o bem que ele precisa para poder ter mais vida. Afinal, amar  é colaborar na salvação, mas somente Jesus nos salva. Mesmo que tivéssemos  amado infinitamente, sem a ação de Jesus, não teria como ressuscitarmos.
Na teoria reencarnacionista, o amor é vivido também, mas numa outra forma. É para aliviar o carma, para evitar novas reencarnações. Há um motivo bem claro: vencer os carmas. E na fé reencarnacionista não entra a ação salvadora de Deus, é somente a  pessoa por seus méritos pessoais, baseados na caridade, que vai se salvar. Veja a questão fundamental: dispensa a ação salvífica de Cristo.

-Meu nome é Debora, 26 anos, sou evangélica e na minha religião nós acreditamos que exista céu e inferno, que há o mundo espiritual e que tudo isso seja muito mais real do que no mundo em que vivemos e que este mundo é passageiro. Digamos que é uma sala de espera e que nós estamos sim de fato esperando pra algum lugar e que somos nós quem decidimos para onde vamos com nossas atitudes. O quanto esse mundo espiritual afeta no dia-a-dia?
 Sim, a visão evangélic a é muito semelhante  à católica. As diferenças são as seguintes: os católicos acreditam na tradição do purgatório  que é a possibilidade de alguém se purificar dos seus pecados até mesmo depois da morte por uma ação misericordiosa  de Deus. E os evangélicos, em geral, acreditam que após a  morte a pessoa dorme esperando a parusia  ( segunda vinda de Cristo),quando ocorrerá a ressurreição  dos mortos. Os católicos acreditam que entre a morte e  a parusia está um tempo sem cronologia que é o tempo do céu, onde os mortos esperam a ressurreição final,  mas já estão na alegria eterna. Cremos também que alguns estão no purgatório e resta a possibilidade de uma ruptura absoluta com Deus: o inferno. O que determina nosso destino final é o amor que fazemos em vida e ação de Cristo que nos salvará. Sem ele nada podemos fazer. Essa esperança numa comunhão plena com Deus começa aqui e agora no amor ao  próximo.

2 comentários:

  1. Olá, gostei muito do blog acredito que é de relevante importância para a evangelização, porém as respostas a algumas perguntas estão muito generalizadas e sem aprofundamento principalmente na pergunta que se refere a diferença entre o amor do cristianismo católico e o amor de chico xavier, no meu ponto de vista ouve uma confusão nas respostas e a pergunta não foi respondida com conhecimento aprofundado sobre os dois aspectos. Sou de família católica, gosto muito da doutrina espírita e em meu ponto de vista a principal diferença está na clareza das respostas a todas essas perguntas que a doutrina espirita mostra. Acredito que há um enorme preconceito sobre religiões e diferentes doutrinas, precisamos ter a mente aberta para circular em diferentes ambientes e certamente aprenderemos muito e consequentemente seremos mais felizes. Abraço a todos!

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    1. Olá Edivaldo, obrigado pela participação no blog.
      As perguntas são apenas a continuidade do encontro realizado no dia 29/07, ou seja, abordamos profundamente o assunto em duas horas de discussão e as perguntas são alguns tópicos. Por isso, parecem generalizadas,para não repetir tudo o que foi tratado na 5ª edição do projeto. Se você ficou com alguma duvida em alguns pontos pode mandar por e-mail à feecafecaxias@gmail.co
      Sobre o espiritismo, colocamos a voz da Igreja, mas caso sua opinião seja contrária, pode também enviar um e-mail no ponto que discorda. O foco do Fé&CaFé é propor diálogo entre a juventude sobre espiritualidade mas à luz da fé católica. Questionamos, refletimos e nos aprofundamos no que a Igreja acredita.
      Também te convidamos a participar dos encontros, que acontecem cada último domingo do mês, às 20h, na Catedral Diocesana de Caxias do Sul.

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